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Cristina Diniz - A mulher que se reinventou.


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Mais uma entrevista do projeto “Mulher que faz”, mulher que faz a diferença não só por ser quem ela é dentro do contexto da própria vida, mas também no mundo.

A nossa entrevistada é uma mulher que através da sua coragem, força e persistência venceu obstáculos e dificuldades descobrindo uma forma de reinventar a própria vida.




Veranice: Cristina Aparecida Abreu Diniz, Cristina Diniz, para mim apenas Cris... (Risos)

Cristina Diniz: Adoro (Risos)

Veranice: Você tem problema em falar sua idade? (Risos)

Cristina Diniz: Não, 41 anos (Risos e cara de “menina levada”)

Veranice: Está Gatinha ainda... (Risos)

Cristina Diniz: Uhu! adoro, já fui... (Risos)

Veranice: Você é daqui de Sete Lagoas?

Cristina Diniz: Sou nascida aqui em Sete Lagoas, mas fui registrada em Baldim porque meus pais eram de lá.

Veranice: Baldim é uma cidadezinha próxima aqui de Sete Lagoas, famosa pelos doces...

Veranice: Cris, conta pra nós - existe algum fato que você considera que contribuiu na formação de sua personalidade.

Cristina Diniz: Olha, eu tive uma infância bem discreta. Nunca fui muito levada, muito arteira...

O que mais me marcou Vera, foi que, no período de nove para os dez anos, fase em que as crianças são mais ativas normalmente, eu fiquei por quase um ano sem andar. E neste período, fui andando de muletas e cadeira de rodas. Ir para a escola de cadeira de rodas é muito complicado para se adaptar, porque um ano antes eu estava indo normalmente. Passar por tudo isso, foi o que mais me marcou na infância.

Veranice: O que aconteceu com você?

Cristina Diniz: Eu tive um problema de deslocamento do fêmur para a bacia e por causa disso operei os dois fêmures e coloquei platina. Como estava em fase de crescimento, tive que voltar ao hospital em 6 meses e 1 ano depois para retirar os parafusos. Mas isto não impediu meu crescimento. (Boas gargalhadas)

Veranice: Qual é a sua altura, Cris? (Risos)

Cristina Diniz: Eu tenho 1, 79.

Veranice: Você acha que isso interferiu em seu desenvolvimento escolar?

Cristina Diniz: Não, em momento algum. Foi só a adaptação, porque é o diferente, né? Você ir para escola de cadeira de rodas, depois de muleta, deixar de fazer algumas coisas como, educação física e todas atividades da idade...

– Foi um período complicado e acho que a cadeira de rodas foi o que mais me assustou. Mas na escola foi uma coisa rápida. Carrego isso comigo, tenho muito forte na minha mente, porque fiquei mais de 08 meses sem andar.

Quando o médico disse: “levante e ande”, eu não sabia mais. Tive que reaprender, porque de fato eu esqueci como trocar um passo; tive que reaprender andar com 11 anos, isto me marcou muito na época da infância para a pré-adolescência.

Veranice: Que vivência né Cris? Após esse evento marcante vem adolescência, juventude...

Cristina Diniz: Adolescência... beleza (Risos) “Comecei a namorar com 13 anos.

Veranice: Com treze? Estamos juntas nessa... (Risos)

Cristina Diniz: Fiquei noiva com 15, casei com 16. Então assim, adolescência... não tive muita, né? Hoje eu tenho mais tempo de casada do que tive de solteira. (Risos)

Veranice: Mesmo Cris? (Totalmente perplexa)

Cristina Diniz: (Risos) eu faço agora em julho, 25 anos de casada.

Veranice: (Risos).... Fala um pouco como foi isso, porque namorar aos 13 anos foi meio... como diria...

Cristina Diniz: Anormal...

Veranice: É anormal, aliás, precoce. A palavra ideal é esta. Fala um pouquinho dessa experiência...

Cristina Diniz: Namorei com treze, noivei com 15, casei com 16 e fui mãe aos 22.

Hoje, Vera, eu vejo isso com mais tranquilidade, porque a idade me amadureceu muito. Mas antes eu não conseguia falar sobre, era um assunto que eu não conseguia explanar sobre.

Mas fato é que tive um relacionamento muito difícil com meu pai. Então hoje eu acho, olhando com esses olhos assim, que o casamento foi uma fuga em relação a isto.

O meu pai é mais velho que minha mãe vinte anos. E, não fazendo disto uma bandeira, sou filha de uma empregada. Estamos falando de um contexto da década de 60, 70... onde o patrão explorava de uma empregada, inclusive sexualmente. Isso durante minha vida sempre incomodou muito. Hoje temos movimentos que discutem e defendem os direitos dessas trabalhadoras, naquela época não tinha.

Muitas vezes eu não conseguia entender minha mãe e aceitar muitas coisas... sou filha de pais solteiros, não se casaram e minha mãe se permitiu muita humilhação como mulher, entendeu?

Veranice: Desse pai?

Cristina Diniz: Desse pai. E ela já tendo filhos com ele, inclusive tenho um irmão mais velho sete anos. Isso sempre me incomodou muito, ele sempre viver a vida de solteiro, levar namoradas em casa e ela permitir tudo isso. Em função disso, nós dois tivemos uma relação muito complicada.

Mas, olhando de fora, acho que o casamento naquele momento foi uma fuga, ainda que seja um casamento feliz que já dura vinte e cinco anos, né? Percebo hoje que são “Cristinas” diferentes a de 13, 16 e a de 41 anos. São mundos e pensamentos muito distintos.

Veranice: É interessante porque ainda hoje existem muitas “Cristinas” pelo mundo, com problemas e dificuldades semelhantes, que muitas vezes buscam recursos nos vícios, na sexualidade desregrada... no seu caso, apesar de ter sido precoce, você foi “séria”, vamos chamar assim. Namorar com treze, ficar noiva aos quinze... casar com dezesseis.

Veranice: E a maternidade aos 22, ainda jovem...

Cristina Diniz: Ainda jovem, mas já tinha 6 anos e pouco de casada.

Veranice: E eu conheço, o fruto: Tauanna. (Risos)

Cristina Diniz: E é pelo que vivi, que eu e ela conversamos abertamente sobre tudo. A adolescência não vivi, ter histórias para contar... hoje já superei, mas em um longo período da vida senti falta, de estar em uma roda de amigas e ter algo para contar. Falo muito isto com Tauanna, que não se deve permitir aos exageros e excessos, que faz mal... mas que deve viver cada etapa da vida. Digo: “você está na idade é de namorar, estudar, adquirir as coisas, viajar como você gosta muito, então viva cada etapa mesmo, porque lá na frente, faz falta”.

Sabe aquela pessoa meio deslocada? (Risos)

Veranice: Sim (risos)

Cristina Diniz: Eu passo por isso. Casei com o primeiro namorado e em um bate papo feminino, numa rodinha, não tenho muito o que contar e por isso julgo que não sou uma pessoa muito interessante. (Risos)

Veranice: Ou talvez possamos até pensar que seja mais interessante exatamente por ser diferente (risos)

Cristina Diniz: É um ponto de vista... (Risos)

Veranice: Que pode ser considerado?

Cristina Diniz: ÉEEE... (Risos...meio sem convicção)

Veranice: Cris, quando você começou ou teve a necessidade de trabalhar?

Cristina Diniz: Com quinze anos eu cobri férias na Padaria Bella, próximo de onde morava, foi minha primeira experiência profissional. Trabalhei seis meses na padaria e me encantei com o atendimento ao público. Acho que é uma coisa natural, nunca trabalhei com vendas, mas sinto que teria desenvoltura pra isso.

Eu continuei meus estudos, porque casei e não tinha formado o segundo grau ainda (Ensino Médio) (Risos).

Entrei de fato no mercado de trabalho já meio tarde com vinte e quatro anos, na Cedro (Empresa Cedro Têxtil). Naquele momento Tauanna já estava com três anos e senti que era o momento de investir na Cristina profissional. Fiquei lá por seis anos e meio.

Até que um dia uma amiga chegou contando que a AMBEV estava em processo de expansão na cidade, aceitando currículos e tal. Estava de férias e resolvi ir de uma forma bem despretensiosa, só disse: “vamos”. (Risos)

E uma coisa que incomodava no ambiente da Cedro, era que mesmo sendo uma empresa excelente, era extremamente familiar. Lá eu era “Cristina esposa do Delcio”, isto internamente me incomodou muito.

Veranice: Te anulando?

Cristina Diniz: Exatamente. Então na minha visão não deixava de ser diminuição da mão de obra feminina, a desvalorização por ser mulher.

Veranice: O mesmo desconforto que sentia no contexto da sua mãe perante seu pai...

Cristina Diniz: É, exatamente. O que muito me chamou atenção na AMBEV é que não pode entrar parentes. Isto era uma coisa totalmente diferente da realidade que eu vivi até ali.

E fui, passei nos testes, fiz a entrevista e coincidentemente (embora a vida não tenha coincidência) quem fez minha entrevista e me aprovou é atualmente minha sócia.


Veranice: Como a vida nos surpreende, né!?

Cristina Diniz: Então fui aprovada e comecei a trabalhar estando ainda de férias na Cedro. (Risos)

Veranice: Que diferente (Risos)

Cristina Diniz: Na minha carteira tem 3 dias trabalhando em duas empresas. Me desliguei da Cedro e fiquei Full Time na empresa, onde trabalhei 7 anos e 8 meses até que decidi em março de 2021, finalizar meu ciclo na empresa para o nascimento da RHeinventar.

Veranice: Que bacana Cris. Na AMBEV você teve possibilidade de crescimento?

Cristina Diniz: Sim. Entrei como operadora, mas não operei por muito tempo porque fui logo direcionada para gestão. Na AMBEV a cultura de gestão é muito forte e natural, tudo passa pelo processo de gestão, não é algo exclusivo de uma equipe.

Veranice: Entendi.

Cristina Diniz: Então foi de fato lá onde entrei em contato com as ferramentas de gestão da qualidade, me tornando hoje auditora da ISO 9001.

Veranice: Então vamos falar um pouquinho de como surgiu a ideia da RHeinventar.

Cristina Diniz: Eu estava passando por um momento de insatisfação profissional, buscando identificar o que eu gosto de fazer, procurando meu propósito – algo que está muito na moda, qual é meu propósito... Eu estava em um momento que chamo de “Coma profissional”. Aquela situação que você vai levando com a barriga e vai indo. Fui convidada por outra empresa para passar por um processo seletivo, adoraram minha entrevista, foi um sucesso e no teste psicotécnico não passei, Vera.

Veranice: Que isso Cris?

Cristina Diniz: É... Não passei. (Risos)

Mas tudo tem uma explicação. Na época, em plena pandemia de COVID, meu irmão foi acometido por “Herpes Zoster” ele estava naquela fase de investigação, uma bateria de exames, preocupação, estresse e eu no suporte – marquei meu psicotécnico para o mesmo dia. Deixei-o no hospital e corri para a psicóloga para fazer o teste, não tinha cabeça.

Veranice: Quase impossível passar...

Cristina Diniz: E não passei. Mas isso me frustrou de uma maneira gigantesca.

Veranice: Eu imagino!

Cristina Diniz: Aí procurei uma Coach, cheguei assim um “lixo profissional”, muita insatisfação. E durante o processo na procura do meu propósito, percebi que ele é nada mais do que aquilo que te dá prazer. Descobri que o que me dá prazer é estar com gente, pessoas.

Veranice: Interessante

Cristina Diniz: A RHeinventar nasceu de um “bate papo” bem despretensioso com uma Coach. Onde percebemos várias possibilidades que o mercado oferece, conciliando a busca pelo meu propósito e a oportunidade de fazer de jeito prazeroso, porque antes fazia recrutamento de seleção, os mesmos que faço hoje, só que de uma maneira personalizada.

Veranice: Fazer com sua alma.

Cristina Diniz: É isso. Então a RHeinventar me permite fazer do “meu” jeito. E o que muito me encanta é ajudar as pessoas e receber feedbacks, tipo: “Você fez a diferença em minha vida profissional”. Isto me enche os olhos.

Veranice: Muito interessante. Estou pensando na força da menina de nove anos, fazendo um link aqui na minha cabeça, da força dessa menina que reaprendeu a andar. Pode ser que para você, sendo protagonista da história, não fique visível essa trajetória de coragem e força, porque aparentemente só foi pela necessidade. Ouvindo sua história e as propostas da RHeinventar é fácil perceber que traz um pouco da sua essência, porque você vem inventando novas formas de viver.

Cristina Diniz: É verdade... (pensativa).

É o resumo do que é a Cristina, né?

Veranice: Eu diria que é o resultado!

Cristina Diniz: Gostei (Risos)

Veranice: A RHeinventar é o resultado de sua trajetória, da Cristina, como ser humano e mulher.

Cristina Diniz: A Rheinventar é a soma de profissionais que acreditam em um trabalho que vai além de números, enxerga pessoas e oportunidades ao invés de “produtos”, é humanizada. As pessoas reclamam muito da falta de retorno das empresas nos processos seletivos. Nós fazemos a devolutiva sempre, mesmo quando é um retorno negativo e elas se mostram extremamente carinhosas, agradecidas por terem de fato recebido um retorno.

Veranice: Se sentem respeitadas.

Cristina Diniz: Sim, quando tem esse respeito pelo humano é diferente. A gente precisa disso, de humanização, respeito ao profissional. Precisamos disto no mercado que está em constante mudança, em ebulição tecnológica, onde temos que adaptar de hoje para amanhã, sem muito tempo para isto. Penso que: “para ser gente precisamos de gente”.

Veranice: Muito pertinente suas colocações. E você falando nisso, é inevitável destacar que muitas vezes apenas a mulher se sensibiliza para isso aí. Lógico que existem homens sensíveis, mas isso que você falou é próprio da mulher.

Cristina Diniz: O cuidar, o zelar.

Veranice: As pessoas não vão poder te ver, porque estamos gravando áudios, mas vou fazer uma descrição bem fiel ao que estou vendo - a Cristina vai falando no gênero humano e vai apalpando o ar e abraçando... Eu que estou na frente estou me sentindo no colo e é muito gostoso isso (Risos)

Cristina Diniz: (Riso Encabulada) Eu falo que eu entendo de gestão, mas gosto de gente. A importância do acolhimento.

Veranice: Cris você acha que se perguntássemos para a “Menina Cristina”, ela acreditaria no que você está vivendo hoje?

Cristina Diniz: Não, não mesmo Vera. É porque eu de fato me vejo a partir de crenças limitantes. Embora a vida a todo instante me prova que sou capaz, apesar de ter crenças limitantes e medos, não me vejo assim uma pessoa interessante.

Veranice: Se você tivesse a possibilidade de alcançar um maior número de mulheres possíveis, o que você diria para motivar essas mulheres?

Cristina Diniz: Diria que a gente tem que se permitir identificar interiormente, ouvir o nosso coração. A mulher tem mania de ficar ligada na vida de filho, do marido, no trabalho e acaba se anulando como pessoa. Então temos que nos permitir, inclusive errar, o erro também traz conhecimento. Que a gente respeite nossos limites, nosso tempo. Que a gente de fato não perca esse acolhimento, essa humanização, independente do seu nicho profissional, dá para fazer diferente, dá para se reinventar no meio em que você está.

Veranice: Cris, te agradeço muito. Foi uma delícia estar com você. As letras não conseguem transportar tudo que vivemos aqui durante nosso bate-papo.

Cristina Diniz: Eu que agradeço, por você ficar assim empolgadíssima com meus projetos futuros e estou extremamente orgulhosa da Cris que não é muito interessante. (Risos).

Que teve uma infância e adolescência discreta e que agora quer ser uma mulher madura e poder transformar todos os aprendizados em ações.

Veranice: Assim encerramos a segunda entrevista do nosso projeto, com muita gratidão por aprender com uma história que inspira resistência e coragem, poder conhecer um pouco da vida de uma Mulher como você Cris, que se permitiu mergulhar na própria história e dividir conosco. É um privilégio trazer à tona vida de mulheres aparentemente comuns, mas que são especiais pela sua trajetória.



E tem mais mulheres prontas para estar aqui...



 
 
 

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